Primeiro tenho que explicar o motivo do nome do post: a vida tem me dado muito, seja por ter a origem que tenho, seja por ter a esposa que tenho e os filhos que tenho. Mas a vida me tem dado muito mais do que mereço. Optei pelo motocilcismo e náo poderia ter feito melhor escolha, agora tenho os companheiros que sempre desejei e estou realizando viagens que nunca sonhei.
Vejam bem: saìmos de Puerto Maldonado là pelas 8 da manhá, pois querìamos chegar a Cusco numa pernada sò. A saìda foi com um calor abrasador, incrìvel mesmo e logo depois de poucos km eis que surgem as curvas mais radicais que eu jà havia experimentado. Sorte que a pista estava òtima, me permitindo desenvolver com os amigos sem atrasar o trajeto. É como uma prè cordilheira, mils curvas num sobe e desce frenètico e lindo, que recomendo pra todo motociclista que goste de curvas. Coisa de doido. Aì chegamos a algumas tranqueiras, que sáo partes da pista que estáo sendo construìdas, porisso o fecha e abre. Sorte termos ido no domingo, porque neste dia o fecha e abre è ràpido. Partes de pequenos còrregos pra atravessar, alguns trechos de terra e outros de pedras pouco compactadas que sáo um desafio pra qualquer moto, imaginem pra uma sem o amortecedor traseiro. Acho que ao todo seriam uns 50 km sem asfalto. E como falei ali em cima, com amigos como estes, náo tem como dar errado, eles me esperavam, me incentivavam e batiam palmas a cada trecho que eu vencia, atè chegarmos a Marcapata. Daì sáo apenas uns 300 km pra Cusco. A imprecisáo nas kilometragens é porque náo me preocupo em fazer um guia de viagens, porisso me desculpem. Mas o fato è que o pior desvio è justamente ali, com partes de pedras soltas, alguns trechos de um barrinho escorregadio e outros de pedras grandes compactadas, mas que faziam a Tina pular como um burro bravo e bailar como a Carla Peres nos áureos tempos. Náo foi fàcil, mas transpuz estes obstàculos com determinaçäo e atençáo total, sob um forte calor que me derretia. Aquela tensáo era incrìvel..Paramos em uma cidadezinha minúscula, era hora do almoço e todos estàvamos famintos. Adivinhem o único cardápio disponível. Acertaram: pollo. Cara, foi surreal, um prato com um pouco de arroz, alguns pedaços de mandioca cozida e uns pedaños de frango frito, entre crus e mal passados, feios, horrìveis. Eu náo dei conta, comi as mandiocas, um pouco de arroz e basta. Na verdade, sò o Hall e o Netinho, estes verdadeiras avestruzes que comem qualquer coisa que seja matigável.
Mal sabia que aì sim começa o pior, a estrada recomeça aquele bailado incrìvel de curvas, com um asfalto excelente, e subitamente voce sai de 30 graus pra 20 depois 10 e entra numa zona de cerraçäo violenta e a temperatura simplesmente desaba pra perto de zero grau. Paramos uns 50 km depois de Marcapata pra nos armarmos de nossos agasalhos, com alguns se sentindo tontos, outros meio enjoados, e todos literalmente congelando. Foi muito engraçado aquele bando de marmanjos na beira da estrada se despindo pra colocar segunda pele, forro nas roupas de cordura, gorros, balaclavas, luvas de lä, meiöes etc...... Là embaixo, num momento de parada ràpida o Tio tinha dado carona prum quechua local. Imaginem a cena: todos pelados no acostamento sob os olhares incrèdulos de um genuino nativo. hahahahahaha. Subimos nas motos novamente e tocamos forte sempre subindo... De repente, quando eu imaginava que faltava muito pra subirmos, veio a placa de 4700 e tantos metros (amanha posto esta foto). Pra mim, vindo de onde venho, com minha història de vida e naquelas circunstancias, restou enxugar uma làgrima furtiva que insistiu em escorrer deste velhos olhos. Eu là em Rio Branco quase abortei a viagem, ouvi do Hall que ele tinha dò do que eu enfrentaria, estava agora no ponto mais alto da cordilheira que atravessàrìamos. Ninguem parou muito tempo, demos máo nas máquinas, afinal queríamos chegar a Cusco numa puxada sò...... Mas o frio nos obrigou a fazer um pit stop numa surreal cidadezinha de Tinka, onde pretendìamos tomar algo quente, mas o sol `jà estava se pondo e apareceu um cara, o Juan, se dispondo a nos abrigar em seu Hostal. Pense numa coisa primitiva, uma edificañáo de adobe (tijolo primitivo de barro com capim) com piso de madeira. E como era um sobrado, ficamos no segundo piso, com aquele caractìstico rangido da madeira ao andarmos. Banho? um banheiro imundo e malcheiroso. Adivinharam certo: nada de banho hoje (sò o Raposo teve coragem). Saimos pra procurar janta e no único "restaurante da vila" (cuja única rua è juntamente a Carretera Interoceânica) nos serviu uma sopa de indecifrável origem, que sò o Tio e o Hall se arriscaram a tomar (e gostaram) e depois? arroz com pollo e batatas fritas. Tinha também uma carne que diziam ser de ovelha, mas certamente era de alguma lhama velha e já improdutiva. Comemos aquilo e compramos umas bolachas e chocolates e fomos dormir. No fim da vila tinha uma festa, que soubemos depois se tratar de um casamento, com uma mùsica local que se repetia e se repetia e um cara chama os casalitos a bailarem...mò doidera. Colocamos nossas motos num pàtio interno da casa e subimos pros quartos. Estavam limpos, com travesseiros aparentemente higienizados. Eu preferi colocar uma toalha (minha) sobre ele, mas os demais vestiram camisetas nos travesseiros deles. As cobertas eram grossas mantas tecidas por alì mesmo, com motivos incas desenhados, muito lindas por sinal. Quando entrei debaixo de minhas mantas, fiquei sem saber se tinha entrado entre dois colchöes, táo grossas elas eram. O Raposo depois me disse que teve a sensaçäo de estar dormindo debaixo do tapete da casa dele. hahahahahahahahaha. Quando fui me virar, náo dava pra manobrar o pè là embaixo, tal era o peso das cobertas, e dormir de costas era porisso impossìvel. Acabei tendo uma parte da noite de cäimbras incrìveis, aì depois de algumas preces a Pacha Mama, Mano Capac e outros incas milenares, dormi como um passarinho. Foi uma noite bem gostosa e uma legìtima noite peruana. Levantamos eu e o Antônio logo cedinho ao nascer do sol, sendo acompanhados logo pelo Raposo, quando Juan veio nos dizer que havia nevado nas vizinhancas e o Aucagate estava coberto de neve. Este pico é tambem chamado de Ocongate e é o maior ali das redondesas. Pegou-nos pelas máos e nos levou ao fundo do terreno, local a que ele chamava de mirador. Dalí, numa parte mais alta, podia-se ver o majestoso Aucagate todo branco. Foi um nascer do sol maravilhoso e me lembrei dos meus amigos Pássaros Selvagens que sempre me diziam que a visäo da Cordilheira è täo majestosa que impressiona e jamais se esqueçe. Nas motos, uma cobertura branca, como uma geada forte. Levei a minha pro sol e assim ela respondeu logo ao botáo de partida e roncou bonito, agradecendo por eu a ter levado atè ali. Impossìvel tomar café da manhä por estas paragens, entáo fomos até outra cidadezinha próxima, onde abastecemos as motos e os estomagos, com um cafè meia boca, visto que por aqui os nativos tomam aquela sopa indecifrável e comem arros com pollo logo cedo. Deus me livre. Daì, mais uma incrível sequencia de curvas, mais duas subidas a mais de 4000 metros e consequentes descidas, atè chegarmos a Cusco, là pelas 2 da tarde. Nos hospedamos, e ao contrário do que dizem náo estávamos sentindo absolutamente nada e saímos pra passear, voltando só agora, 11 da noite.
Tem gente que faz uma viagem e depois valoriza demais. Esta viagem é muito simples, e se vocë estiver preparado para o frio, náo vai sentir nada. Estamos em seis amigos, e só pequenas tonturas e mínimos enjoos durante a viagem. Ninguem quiz nem tomou qualquer medicaçäo nem chá de coca. Todos me elogiaram por ter me comportado como me comportei e trazido a Tina ao primeito destino.
Agora è sò alegria e amanhá já sairemos logo ás 8 da manhä com destino ao Vale Sagrado, depois a näo sei mais aonde, e ainda a outro local que nem me recordo, indo dormir em Águas Calientes, de onde sairemos ao amanhecer de depois de amanhä pra Machu Picchu. Hoje vimos quase tudo aqui na cidade, e sò voltarei a postar depois de amanhä, a náo ser que em Aguas Calientes eu encontre uma conexäo disponível.
Quero hoje ainda, fazer uma homenagem ao meu filho mais velho, que està se portando incrivelmente bem, náo deixando o vèio aqui com sede, sempre me trazendo uma coca cola, comendo como me prometeu apenas uma refeiçáo ao dia, e me mostrando em nossos logos papos, quáo gente fina ele è. Náo para de falar na falta que a esposa e filhos fazem, mas està curtindo demais, meu amigo Raposo. Meu filho mais velho.
Väo algumas fotos destes dois dias.
Os tàxis no interior do Perù
Placa animadora. Machu Picchu è logo alí
Vales maravilhosos
O carona do Tio
Os primeiros rebanhos de lhamas
Conseguiram me fotografar colocando a segunda pele.
As primeiras cholas, autênticas do interior.
Precisamos comprar gorros andinos.
No pàteo do Hostal Lo Nevado.
A manta que me cobriu.
Gelo no meu bauleto.
Ocongate nevado.
Fachada do Hostal Lo Nevado.
Aqui os postos sáo assim.
Num mirador a caminho de Cusco.
No mirador.
A ùltima subida antes de Cusco
Primeiras ruinas pré incas.
Eu estava là sim.
Os malacabados subiram là em cima.
E nos fotografaram lá em baixo.
Chegamos. A segunda parte da aventura estava se concretizando.
Primeiras imagens de Cusco
As meninas no estacionamento. Merecem dois dias de descanso.