Hoje comeco sem cedilha e com um vídeo. Pra terem idéia de como é interessante o deserto.
Saímos bem cedo de Iquique e descemos a beira mar pela Ruta-1 até Tocopilla. O tempo continuava nublado e durante este trajeto de aproximadamente 250 km um tempo de bruma, parecendo um conto de Allan Poe nos acompanhou. Á direita, o Pacífico, com sua costa que mais parece uma renda do Maranhao, com recortes e ilhotas incríveis, , mas nenhuma praia de areia. Coisa estranha de se ver, só pedras, bancos de areia grossa e muita água de um verde azulado profundo e cheio de ondas e espumas. Á esquerda, o deserto, o tempo todo o desero lúgubre e triste, ora ligeiramente avermelhado, ora cinza com nuances de amarelado, outras vezes com paredoes incríveis que se misturavam com a neblina, fundindo com o céu cinzento. Mas nao era uma neblina molhada, daquelas que nos molham as viseiras e as embacam, era uma neblina estranha, densa e meio sêca, deixando apenas a pista com uma ligeira umidade. Ventos ora fortes ora fracos, e a estrada ia serpenteando com subidas cheias de curvas, descidas longas e rápidas. A Tina estava de mal humor, se portando muito mal, porque o frio näo permitia que os pneus se aquecessem, e a estrada apresentava sulcos longitudinais. Nas curvas, ela insistia em sair de traseira, me obrigando a tirar a mäo pra depois, na reta, meter a mäo pra alcanssar o grupo. (estou sem cedilha e til). Lá pelas tantas, pouco antes de um túnel, ela quase me manda pro chao, era uma curva pra esquerda e a bunda da danada foi lá perto do acostamento. Precipício por perto, automáticamente tirei a mäo e ela voltou a uma trajetória controlável e consegui fazer a curva. Ufa! quase sujo a cueca!. Daí pra frente, adotei uma pilotagem mais ortodoxa, abrindo as entradas e espalhando nas saídas de curvas, chegando a ficar alguns km atraz do grupo. O Antonio me esperava de vez em quando. E no túnel, mais um pequeno susto, porque alem de mal iluminado e esta iluminassao dar um ar estranho no seu interior, um carro que estva na minha frente algumas centenas de metros deve ter se assustado também e tirou o pé de repente e cresceu na minha frente asustadoramente. Logo depois chegamos a Tocopilla, uma cidade interessante, onde abastacemos e comemos vários sacos de batatas fritas, coca cola, café e aí sim, apontamos os faróis pros lados de Säo Pedro do Atacama, dobrando ä esquerda. Nos perdemos do Pacífico e restou o deserto total. Imensas subidas, curvas e buracos na pista nos levaram a um altiplano, onde pudemos sentir a forssa do deserto. Coisa incrível, muitas dunas imensas, mas näo como as do nosso nordeste, que mudam de lugar, pois säo dunas de pedras grandes, pequenas e uma areia pesada, esquisita. Parei algumas vezes, ouvi o vento, semti a atmosfera e posso dizer que poucas vezes senti uma solidao daquela. Näo existe absolutamente nenhuma vegetacao nem animais ä vista. Apenas o som do vento, e aquela vastidäo chocante. Aqui e ali encontramos minas, fábricas e uma infinidade de linhas de transmissäo de energia. Raramente, algum trailler, onde deve morar algum tipo maluco do deserto, me lembrando filmes americanos. A estrada já é bem melhor, o vento comesa a incomodar e o calor me obriga a tirar os forros da roupa. O grupo anda meio disperso, tirando fotos e buscanso provavelmente as sensasöes que estou sentindo. Andei um bom tempo a 70 por hora, sentindo um negócio estranho, como se tivesse encontrando alguem que habita o fundo de meu ser. Chega a ser comovente. Me veio a mente fazer um filme com os amigos e fui ao ponteiro que era o Antonio e pedi que ele retivesse um pouco os amigos, que eu me adinataria pra parar e me preparar pra gravasäo. Ele entendeu e dei mäo no acelerador e a uns 150 por hora nem percebi o cruzamento com a Ruta 5, sinalizado com uma placa enorme de PARE. Um carro dos carabineros estava ali. Passei a milhäo e o cara partiu em minha perseguisäo, mas viu que näo me alcansaria, desistiu e resolveu parar o grupo. Sorte que o Antonio fala bem a lingua e os policiais chilenos säo super educados. Conseguiram se desvencilhar dos guardas e eu estava lá na frente parado com a camera na mäo esperando. Passaram por mim bravos, e depois me deram a maior bronca, claro que pedi desculpas e usei aquela velha desculpa: näo ferrei voces, mas voces me salvaram! hahahahahahaha.
Daí a estrada comesa a descer descer em diresäo a Säo Pedro de Atacama. Chega-se ä maior mina de cobre do mundo Chuquicamata, vira-se ä direita para Calama e depois de muito vento lateral e descidas íngremes, estavamos em SPAtacama finalmente. Encontramos dois irmäos de Campinas , pela idade da minha, viajando juntos em duas VStrom. Papinho na entrada, a busca de uma hospedaria, uma bela janta-almoso, um passeio pela cidade e aqui está a história de hoje.
A reuniäo agendada pra esta localidade resultou no seguinte: amanhä estaräo saindo de volta o Raposo e o Antônio. Saudades, cansasso, compromissos. A verdade só tem cada um dentro de sí. Os outros quatro faremos os passeios que temos aqui, depois partiremos, talvez em 3 dias. Com outros 3 ou 4 que levaremos pra voltar, devemos estar chegando em 10 dias no máximo.
Aprendemos muito em termos de convivência, conhecemos melhor nossos limites, descobrimos facetas que só podem aumentar nossas amizades. Acho que este é o objetivo maior, e sobre isto, guardo minhas conclusöes pro último post, daqui a 10 dias. Espero que os seguidores do blog, tanto da parte do Antônio como do Raposo, nos dêem a alegria da continuidade da audiência.
Vamos äs fotos.
Alguns km depois de Iquique tem uma barreira da Federal. É saída da Zona Franca.
Deram uma "meia geral" na turma e aproveitamos pra tomar um café com passarinhos.
Ä esquerda, o deserto e seus paredöes.
Ä direita, o Pacífico e ilhas estranhas.
Entrada de Tocopilla.
De volta ao deserto do Atacama.
Muita solidäo.
Silêncio que oprime.
Retas com muito vento. É täo claro que doi os olhos.
Uma das paradas.
Impressionante.
Até amanhä. Beijos.