Levantamos bem cedo, tomamos nosso café da manhã com algumas frutas diferentes que haviamos comprado na tarde anterior. Arrisquei e consegui trazer sementes de um tal "pepino fruta", fruta interessante que parece realmente um pepino gordo, amarelo com rajas verdes, mas que mais parece um cruzamento de mamão com melão. Muito doce e de paladar agradável, retirei cuidadosamente suas sementes e coloquei no bolso, na tentativa de burlar a alfandega, coisa que consegui felizmente. Saimos com roupa de verão e passamos a primeira aduana de saida do Chile às 8 horas. O caminho era de asfalto muito bom, com uma paisagem bem legal e logo começou a subida, e com ela o vento frio. Colocamos alguma roupa e continuamos até a aduana argentina, onde o vento já estava respeitável, com muita poeira.
Entrei na aduana um pouco depois dos amigos, que já estavam na etapa seguinte e dei de cara com uma mesa comprida e uns 4 policiais fardados e sérios. Ao responder à pergunta de onde vem e pra onde vai, o mais moço deles que estava de pé atraz dos outros me perguntou: Usted piensa que Brasil és lo mejor do mundo? Atônito e surpreso, só pude dizer: não, é um dos maiores em território, apenas isto! Fiquei pensando que o cara queria arrumar pra minha cabeça, sabem aquela velha prevenção contra argentinos que todo brasileiro tem? Mas não era nada disso, porque logo depois, tramites feitos, fomos tomar um café num quiosque que tem lá fora, debaixo daquele vento infernal, o mesmo guarda foi lá conversar amigavelmente conosco e com outro maluco motocilcista que lá estava com uma velha Kawazaki 1992. Foi uma conversa muito legal e com muitas risadas, o que me fez ficar pensando qual a intenção dele ao me perguntar aquilo. Ainda não obtive esta resposta.
Seguimos então subindo e o vento aumentando, o frio era terrível e as tempestades de areia incríveis. Não se enxergava nada a 20 metros. Quando a areia sumia, restava aquele vento que insistia em me dar uma rasteira. A Tina, descadeirada, me obrigava a reduzir a marcha, ficando a vários km atraz dos companheiros, o que me provocava uma solidão incrível. Não via os caras nem nas curvas mais distantes, algumas irregularidades da pista me obrigavam a verdadeiros malabarismos pra manter a moto na minha faixa. O visual é maravilhoso e a sensação de motocar a 5 mil metros é muito boa, emborqa desconfortável demais com aquele amortecedor.
Parei só duas vezes pra tirar fotos, porisso elas são poucas e espero as dos amigos pra completar futuramente um álbum. Só consegui trazer na memória a bleleza de algumas lagunas altiplânicas, salares muito grandes e um horizonte muito desenhado de morros, curvas e subidas e descidas incríveis. Paramos em um restaurante muito doido no meio do nada e lanchamos. Seguimos depois viagem até General Guemes, onde pernoitamos. Encontramos brasileiros que estão lá montando uma usina termoelétrica, acordamos cedo e seguimos.
O tal pepino fruta.
Tio e Hall no café da manhã.
Último adeus ao Licancabur.
Vistas incríveis do famoso Paso de Jama.
Curvas incríveis.
O vento faz esculturas.
Quendo se sai destes morros o vento pega forte.
Terminei o dia um tanto estressado, culpa do vento e de ter rodado sozinho tanto tempo, com uma sensação de estar rodando no esturo, a esmo, sem saber pra onde ia. O roteiro eu não sabia, o Hall havia programado e não havia me falado, fiquei meio nervoso, mas tudo se resolveu com uma noite de sono.